segunda-feira, 16 de abril de 2012

CASO DE CANÁRIO


CASO DE CANÁRIO

    Casara-se havia duas semanas. E por isso, em casa dos sogros, a família resolveu que ele é que daria cabo do canário:
   — Você compreende. Nenhum de nós teria coragem de sacrificar o pobrezinho, que nos deu tanta alegria. Todos somos muito ligados a ele, seria uma barbaridade. Você é diferente, ainda não teve tempo de afeiçoar-se ao bichinho. Vai ver que nem reparou nele, durante o noivado.
   — Mas eu também tenho coração, ora essa. Como é que vou matar um pássaro só porque o conheço a menos tempo do que vocês?
   — Porque não tem cura, o médico já disse. Pensa que não tentamos tudo? É para ele não sofrer mais e não aumentar o nosso sofrimento. Seja bom; vá.
   O sogro, a sogra apelaram no mesmo tom. Os olhos claros de sua mulher pediram-lhe com doçura:
   — Vai, meu bem.
   Com repugnância pela obra de misericórdia que ia praticar, ele aproximou-se da gaiola. O canário nem sequer abriu o olho. Jazia a um canto, arrepiado, morto-vivo. É, esse está mesmo na última lona, e dói ver a lenta agonia de um ser tão gracioso, que viveu para cantar.
  — Primeiro me tragam um vidro de éter e algodão. Assim ele não sentirá o horror da coisa.
  Embebeu de éter a bolinha de algodão, tirou o canário para fora com infinita delicadeza, aconchegou-o na palma da mão esquerda e, olhando para outro lado, aplicou-lhe a bolinha no bico. Sempre sem olhar para a vítima, deu-lhe uma torcida rápida e leve, com dois dedos, no pescoço.
   E saiu para a rua, pequenino por dentro, angustiado, achando a condição humana uma droga. As pessoas da casa não quiseram aproximar-se do cadáver. Coube à cozinheira recolher a gaiola, para que sua vista não despertasse saudade e remorso em ninguém. Não havendo jardim para sepultar o corpo, depositou-o na lata de lixo.
   Chegou a hora de jantar, mas quem é que tinha fome naquela casa enlutada? O sacrificador, esse, ficara rodando por aí, e seu desejo seria não voltar para casa nem para dentro de si mesmo.
   No dia seguinte, pela manhã, a cozinheira foi ajeitar a lata de lixo para o caminhão, e recebeu uma bicada voraz no dedo.
   — Ui!
    Não é que o canário tinha ressuscitado, perdão, reluzia vivinho da silva, com uma fome danada?
   — Ele estava precisando mesmo era de éter — concluiu o estrangulador, que se sentiu ressuscitar, por sua vez.


(Carlos Drummond de Andrada, 70 Historinhas)

INTERPRETAÇÃO DO TEXTO

1. Leia este trecho do texto:

Casara-se havia duas semanas. E por isso, em casa dos sogros, a família resolveu que ele é que daria cabo do canário”.

De acordo com o texto, o personagem recebera a tarefa porque:

( ) não gostava de canários.
( ) ainda não sabiam se ele gostava ou não de canários.
( ) como era novo na família, ainda não tinha amor pelo bichinho

2. Numere de acordo com os personagens. A quem se referem as frases abaixo.

( 1 ) O canário
( 2 ) O estrangulador
( 3 ) A cozinheira

( ) Nos deu tanta alegria.
( ) Seu desejo seria não voltar para casa.
( ) Assim ele não sentirá o horror da coisa.
( ) Foi ajeitar a lata de lixo para o caminhão e recebeu uma bicada voraz no dedo.
( ) Não havendo jardim para sepultar o corpo, depositou-o na lata de lixo.
( ) E saiu para a rua, pequenino por dentro, angustiado, achando a condição humana uma droga.

3. Por que, de acordo com a família, o canário precisava ser sacrificado?
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4. Por que o personagem solicitou éter e algodão?
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5. Releia a frase do texto:

Com repugnância pela obra de misericórdia que ia praticar, ele aproximou-se da gaiola.”

Que obra de misericórdia o personagem ia praticar?
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6. Para convencer o rapaz a sacrificar o canário, a família usou vários argumentos. Cite dois desses argumentos.
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7. O canário estava praticamente morto. Transcreva, do texto, duas palavras ou expressões que confirmem que o pássaro estava morto.
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8. Por que o canário não foi enterrado?
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9. Releia o 12º parágrafo:
Chegou a hora de jantar, mas quem é que tinha fome naquela casa enlutada? O sacrificador, esse, ficara rodando por aí, e seu desejo seria não voltar para casa nem para dentro de si mesmo.”

a) Como você acha que estava o clima na casa?
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b) O que aconteceu para mudar o clima que havia na casa?


10. Numere corretamente. ( 1 ) hiato ( 2 ) ditongo ( 3 ) tritongo

( ) reparou
( ) saúde
( ) embebeu
( ) ajeitar
( ) algodão
( ) iguais
( ) enxaguei
( ) arrepiado
( ) primeiro
( ) chegou
( ) noivado
( ) rua
( ) agonia
( ) saguão
( ) duas

11. Complete o quadro.

 
Palavra
Separação Silábica
Classificação Tônica
cozinheira


perdão


médico


bichinho


rápido



 
12. Observe os substantivos destacados no parágrafo abaixo. Copie-os adequadamente no quadro.

As pessoas da casa não quiseram aproximar-se do cadáver. Coube à cozinheira recolher a gaiola, para que sua vista não despertasse saudade e remorso em ninguém. Não havendo jardim para sepultar o corpo, depositou-o na lata de lixo.

 
Substantivos Masculinos
Substantivos Femininos









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